Viajar não é terapia. (Mas pode ser terapêutico!)

VIAJAR NÃO É TERAPIA…
Mas pode ser terapêutico.
Precisamos convergir: a terapia é um compromisso de reengenharia mental que não se compra em pacote turístico.
O foco aqui, no entanto, não é confrontar quem diz que “viajar é terapia” (um mantra recorrente entre influencers e desavisados), mas sim enaltecer que, de fato, é um movimento terapêutico.
Não se deve ignorar o poder transformador de uma viagem bem estruturada, ainda que simples e caseira.
O tédio, a repetição e a previsibilidade da vida cotidiana constroem grades invisíveis.
A simples frase “bilhete emitido” já pode ser uma potencial cura instantânea para mentes exaustas. A gente até brinca: se é para sofrer, que seja em lençóis de fios egípcios, em Paris!
Ao conquistar o novo – o idioma estrangeiro, o mapa confuso, a culinária inesperada – você está, de forma sutil, conquistando uma diferente (e até então desconhecida) parte de si.
É um fortalecimento da autonomia e da resiliência.
O caráter terapêutico da viagem reside em seu poder de suspensão. O ruído constante das obrigações é abafado. É quando partimos para um ensaio de autodomínio, com escolhas, renúncias, orçamentos e cronogramas.
Montamos e desmontamos versões internas, como quem organiza uma mala enxuta e descobre que carregava muito peso desnecessário.
Importante destacar, porém, que há uma fina diferença entre buscar um remédio e encontrar 0 alívio. Não se deve confundir a bússola com o mapa.
A viagem pode apontar uma direção, revelar horizontes insuspeitos e oferecer o alívio catártico da mudança.
Mas o mapa detalhado do ser, a legenda para seus territórios mais acidentados, talvez só seja possível mesmo se for traçado no divã, na clínica ou numa relação terapêutica guiada.
Dessa forma, do alto dos nossos privilégios turísticos (sabemos, muitos não podem se dar a esse luxo) a viagem é um ótimo catalisador.
Espera-se que, com as novas ferramentas pessoais adquiridas, a gente esteja mais tolerante, menos medíocre e mais consciente da nossa beleza e insignificância.
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Se eu passo mais de um ano sem viajar eu quase fico doido kkkk